1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

As investigações que pesam contra Trump

4 de abril de 2023

Processo envolvendo suborno de atriz pornô pode ser apenas o primeiro de vários contra o ex-presidente dos EUA. Acusações vão de instigar a invasão do Capitólio a interferência eleitoral e violência sexual.

https://p.dw.com/p/4Pg5A
Em Nova York, mulher segura cartaz com as palavras: "Condenem Trump"
Em Nova York, manifestantes pedem condenação de Trump Foto: Selcuk Acar/AA/picture alliance

Pela primeira vez, um ex-presidente dos EUA responderá na Justiça por um crime. Donald Trump (2017-2021) é acusado de pagar suborno à atriz pornô Stormy Daniels e de infringir as leis sobre o financiamento de campanhas eleitorais. Em caso de condenação, está sujeito a até quatro anos de prisão.

Para o cientista político David Dunn, da Universidade de Birmingham, contudo, as outras ações que ameaçam o magnata nova-iorquino são ainda mais sérias: "Embora este seja o primeiro caso que vai a tribunal, de certa maneira é o menos grave, e até marginal."

É mais provável Trump ser mandado para o cárcere caso fique comprovado que tentou reverter os resultados da eleição presidencial de 2020 no estado da Geórgia e que apoiou a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Dunn parte do princípio de que no futuro "vamos ver mais Trump e mais acusações".

A seguir, um resumo dos inquéritos a que está sujeito o 45º ex-presidente americano:

Mulher loura olha sedutoramente para câmera diante de fundo vermelho, com letras brancas
Quantia paga a Stormy Daniels pode ter violado leis eleitorais americanasFoto: SMG/ZUMA Wire/picture alliance

Manipulação eleitoral na Geórgia

Existe até mesmo uma gravação de áudio do famigerado telefonema com o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, responsável pelas eleições, em que Trump exige: "Encontre 11.780 votos para mim." O candidato democrata e atual presidente dos EUA, Joe Biden, vencera nas urnas do estado por uma maioria minúscula, e seu oponente tentava assim virar o jogo.

A Justiça investiga agora Trump por conspiração relacionada a fraude e interferência eleitorais, para constatar se ele seria culpado de manipulação a posteriori do pleito.

Um grande júri (grand jury), grêmio de leigos autorizados por lei a investigarem condutas potencialmente criminosas, recomenda o indiciamento em diversos casos. No momento a promotora responsável, Fani Willis, decide sobre o transcorrer do processo.

Donald Trump acena, cercado por seguranças, em 03/04/2023
Trump acena ao chegar à Trump Tower, na véspera de se apresentar à Justiça em Nova York, em 3 de abril de 2023Foto: Yuki Iwamur/AP/picture alliance

Invasão do Capitólio

O 6 de janeiro de 2021 é considerado um dos pontos mais baixos na história da democracia americana: centenas de trumpistas radicais invadiram o Capitólio, a sede do Congresso em Washington, em protesto contra a suposta fraude que "roubara" a presidência de seu ídolo. Antes, Trump instigara seus seguidores a marcharem rumo ao Capitólio e lutarem "como o diabo". A invasão resultou em cinco mortes.

No fim de 2022, após 18 meses de inquéritos, uma comissão da Câmara dos Representantes apresentou seu relatório final, recomendando unanimemente à Secretaria de Justiça que abrisse processos contra o ex-presidente em nada menos do que quatro pontos: obstrução de um processo oficial, conspiração para defraudar os EUA, conspiração para divulgar uma afirmação falsa, e cumplicidade com uma insurreição.

Desde então, Jack Smith é o conselheiro especial que, sob ordens do Departamento de Justiça, investiga a responsabilidade de Trump no atentado sangrento à histórica sede legislativa do país.

Multidão diante e nas escadarias do Capitólio. Washington
Insurreição de 6 de janeiro é nódoa na democracia americanaFoto: Tayfun Coskun/AA/picture alliance

Documentos secretos da Casa Branca

Para o cientista político Dunn, assim como para diversos observadores políticos, a maior ameaça à futura liberdade de Trump são os papéis governamentais acumulados em sua propriedade na Flórida, Mar-a-Lago.

Numa batida em agosto de 2022, a polícia federal americana, FBI, confiscou diversos documentos que o político levara para sua mansão particular ao deixar a Casa Branca, entre os quais alguns designados como "altamente confidenciais". O procedimento correto teria sido entregá-los ao Arquivo Nacional.

Também aqui cabe ao conselheiro especial Smith decidir se Trump violou três leis, ao subtrair e guardar documentos indevidamente; ocultá-los ilicitamente; e obstruir a Justiça. Ele poderá ser condenado nos termos da lei antiespionagem, que prescreve normas estritas para a preservação de papéis oficiais.

Império imobiliário fraudulento em Nova York

Na cidade natal de Trump, Nova York, toda a família ocupa o banco dos réus: além do ex-presidente, seus filhos mais velhos, Donald Jr., Ivanka e Eric, e a holding familiar Organização Trump, acusados de múltiplas fraudes financeiras e comerciais.

Como se trata de uma queixa civil, no caso Trump e seus filhos não estão sujeitos a uma sentença criminal. No entanto, podem ser condenados a uma polpuda multa de 250 milhões de dólares.

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, investiga o clã por anos de falsas declarações a bancos, seguradoras e ao fisco. A fim de obter créditos e prêmios de seguro mais vantajosos, imóveis da empresa familiar foram repetidamente avaliados muito acima de seu valor real, em parte até em centenas de milhões de dólares.

Em janeiro de 2023, num processo separado, a Organização Trump já foi sentenciada a pagar multa de 1,6 milhão de dólares por sonegação de impostos.

Pescoço enrugado com faixa portando pingente "Trump girl"
Acusações e provas não impressionam fãs mais ardorosos do populista americano, como esta "Trump girl", manifestando-se diante de Mar-a-Lago em abril de 2023Foto: Ricardo Arduengo/REUTERS

Trump acusado de violência sexual

Diversas mulheres têm acusado Trump de assédio e violência sexual. Agora a colunista E. Jean Carroll o leva às barras da lei, por supostamente tê-la violentado nos anos 90, numa loja de departamentos de luxo nova-iorquina. Como o empresário nega veementemente tal ocorrência, a querelante, atualmente com 79 anos, abriu uma ação adicional por difamação.

Em outubro de 2022, Trump foi interrogado a respeito. Carroll exige uma amostra do DNA dele, para ser comparada com o material genético no vestido que ela usava por ocasião do alegado estupro. Um tribunal federal de apelação está encarregado de decidir se o ex-mandatário de 76 anos teria direito a imunidade jurídica.