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STF tem maioria para anular indulto de Bolsonaro a Silveira

10 de maio de 2023

Seis dos dez ministros concluíram que ex-presidente agiu com desvio de finalidade ao liberar ex-deputado de cumprir pena de prisão à qual havia sido condenado por ameaçar instituições democráticas.

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Daniel Silveira
Silveira foi condenado pelo STF em maio de 2022 a 8 anos e 9 meses de prisão, e no dia seguinte teve a pena perdoada por decreto de BolsonaroFoto: Evaristo Sa/AFP

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou nesta quinta-feira (04/05) para derrubar a validade do indulto de graça constitucional concedido em abril de 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro ao então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ).

Até o momento, seis dos dez ministros entenderam que houve desvio de finalidade para beneficiar o ex-deputado, e dois votaram pela manutenção do indulto. A sessão será retomada na próxima quarta-feira.

A maioria dos ministros seguiu o voto proferido pela presidente do Supremo e relatora dos processos, ministra Rosa Weber, para anular o benefício. Além da ministra, o entendimento foi seguido pelos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Cármen Lúcia.

Em seu voto, Barroso rebateu as acusações de que a condenação de Silveira teria sido desproporcional. Para o ministro, a conduta do ex-parlamentar não se enquadra na liberdade de expressão.

"Não podemos confundir liberdade de expressão com incitação ao crime e convocação para a invasão física do prédio das instituições e para agressão física de seus integrantes. Não podemos indultar esse tipo de comportamento", afirmou.

Moraes acrescentou que um indulto "que pretende atentar, insuflar e incentivar a desobediência às decisões do Judiciário é um indulto atentatório à cláusula pétrea" da Constituição.

No início da sessão desta quinta-feira, os ministros André Mendonça e Nunes Marques, ambos indicados por Bolsonaro ao Supremo, votaram para validar o indulto. Para eles, a Constituição concede ao presidente da República o poder de concessão de graça constitucional a condenados, medida que não poder ser revista pelo Judiciário.

Daniel Silveira com Jair Bolsonaro
Ex-PM, Silveira era um dos deputados de extrema direita que apoiavam Bolsonaro na CâmaraFoto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Ataques a instituições democráticas

Em maio do ano passado, Bolsonaro assinou um decreto concedendo o perdão da pena a Silveira, que havia sido condenado no dia anterior pelo Supremo a 8 anos e 9 meses de prisão pelos crimes de tentativa de impedir o livre exercício dos poderes e coação no curso do processo a que respondia por ataques à corte.

Antes de ser condenado pelo Supremo, ele já havia sido preso cautelarmente duas vezes. A primeira em fevereiro de 2021, depois de publicar um vídeo em suas redes sociais com ataques ao STF. Em cerca de 20 minutos de vídeo, Silveira usou palavras como "vagabundo", "filho da puta", "bosta" e "idiota" para se referir aos ministros.

Ele ainda manifestou desejo de que os juízes da corte fossem agredidos fisicamente e fez apologia ao AI-5, ato institucional da ditadura militar que resultou no fechamento do Congresso e na suspensão do habeas corpus, entre outras medidas autoritárias.

Em 14 de março, Moraes autorizou a substituição da prisão do deputado por prisão domiciliar, determinando o monitoramento por tornozeleira eletrônica e a expedição de um relatório semanal pela central de monitoramento eletrônico.

Silveira foi preso novamente no final de junho de 2021, por desrespeitar o uso da tornozeleira eletrônica. A prisão foi determinada Moraes, atendendo a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo a PGR, Silveira violou mais de 30 vezes as normas de uso da tornozeleira eletrônica.

Carreira problemática

Silveira, um ex-PM, ficou conhecido nas eleições de 2018, quando quebrou uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco durante um ato de campanha. A memória da vereadora é um alvo constante da extrema direita bolsonarista, que costuma espalhar mentiras sobre sua atuação e piadas macabras sobre sua morte.

Antes de ser eleito deputado federal em 2018 com mais de 30 mil votos, Silveira teve uma carreira medíocre de cinco anos na Polícia Militar do Rio de Janeiro, acumulando dezenas de sanções e repreensões administrativas. Chegou a passar mais de 70 dias na prisão. À época em que foi eleito, Silveira corria o risco de ser expulso da corporação por "mau comportamento, faltas e atrasos".

Antes de ser PM, ele havia sido cobrador de ônibus, chegou a ser investigado pela polícia por apresentar atestados médicos falsos para faltar ao trabalho e ainda sofreu uma prisão por suspeita de venda ilegal de anabolizantes em academias de Petrópolis.

Na Câmara, sua atuação também foi tumultuada. Ele logo passou a tentar emular o estilo que tornou Bolsonaro famoso no final dos anos 1990 e ao longo da década de 2000, distribuindo ofensas e comentários ultrajantes.

Silveira apresentou dezenas de projetos, sempre de acordo com ideias da extrema direita, como uma proposta para classificar o movimento antifa como "grupo terrorista" e um projeto para impedir que pessoas que recusem vacinas não possam ser demitidas por esse motivo.

Mesmo após a sua prisão cautelar, Silveira continuou a exibir comportamento agressivo. Ele se recusou a usar máscara dentro da delegacia e levantou a voz contra uma perita. Já apoiadores do ex-deputado compareceram em frente à delegacia no Rio de Janeiro e agrediram brutalmente um homem que levantou uma placa em homenagem a Marielle Franco. Alguns gritaram que "Marielle levou pouco tiro", segundo jornalistas que acompanharam a cena.

A sua primeira prisão também levantou questões sobre uma clara complacência das autoridades policiais com o comportamento do deputado. Ele não foi acusado de desacato por gritar contra a perita. Agentes da PF deixaram o deputado gravar mais um vídeo com críticas ao Supremo antes de levá-lo para a delegacia. Os policiais também aparentemente não fizeram nada para impedir as agressões de apoiadores de Silveira. Ainda foram encontrados dois celulares na sala da sede da PF em que o deputado ficou detido em fevereiro de 2021, antes de ser levado a um Batalhão Prisional da PM.

bl (Agência Brasil, DW, ots)