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CorrupçãoBrasil

PF prende ex-ministro do MEC e pastor ligado a Bolsonaro

22 de junho de 2022

Prisões ocorrem no âmbito de investigação sobre esquema ilegal de liberação de verbas do ministério em troca de propina. Milton Ribeiro e pastores teriam montado gabinete paralelo na pasta.

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Ex-ministro da Educação Milton Ribeiro
Ribeiro renunciou ao cargo de ministro após revelação do escândalo em marçoFoto: Antonio Molina/Fotoarena/imago images

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quarta-feira (22/06) o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e um dos pastores envolvidos no escândalo do "gabinete paralelo" no Ministério da Educação (MEC). Eles são suspeitos de atuar num esquema ilegal de liberação de verbas da pasta para prefeituras em troca de propina.

Além de Ribeiro, a PF deteve o pastor Gilmar Santos e tem um mandado de prisão contra o pastor Arilton Moura. Apontados como lobistas que atuavam junto ao MEC, os dois evangélicos são próximos do presidente Jair Bolsonaro.

Na operação batizada de Acesso Pago, a polícia cumpre ainda mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos três suspeitos e em São Paulo, Goiás, Pará e Distrito Federal. A PF investiga os crimes de tráfico de influência e corrupção para a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Entenda o caso

O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, que mostrou que Moura e Santos conduziam a agenda de Ribeiro e agiam como lobistas, atuando na liberação de recursos federais para municípios. Os pastores franqueavam acesso ao ministro para prefeitos interessados em obter verbas do MEC para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos.

Normalmente, o processo de destinação de verbas do ministério é lento e burocrático. Com o intermédio dos pastores, no entanto, vários pedidos de prefeitos acabaram sendo atendidos em tempo recorde, especialmente em casos que envolvem prefeituras controladas por partidos que compõem a base do governo, como PL e Republicanos.

Em 21 de março, o jornal Folha de S. Paulo divulgou um áudio no qual Ribeiro admite que uma de suas prioridades era "atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar". E tudo isso a pedido do próprio presidente Bolsonaro.

"Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar [...] Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar", disse Ribeiro.

Em seguida, ele também indicou a existência de uma contrapartida que os prefeitos teriam que oferecer em troca das verbas: apoio para a construção de igrejas. "Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível], é apoio sobre construção das igrejas", disse Ribeiro, sem detalhar como seria esse apoio.

Uma outra reportagem do jornal O Estado de S. Paulo trouxe uma acusação do prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis Domingues, de que Moura lhe pediu 1 kg de ouro em troca de conseguir a liberação de verbas para o sistema de educação de sua cidade. Segundo o prefeito, o pastor também lhe pediu mais R$ 15 mil antecipados para "protocolar" as demandas junto ao MEC.

Queda do ministro

Apesar de negar irregularidades, o caso da "farra dos pastores" provocou a queda do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, que pediu exoneração em 28 de março, dez dias após a eclosão do escândalo. Sua situação ficou ainda mais frágil após a revelação do áudio em que ele admitia que favorecia os pastores – que não tinham vínculo oficial com o ministério – a pedido de Bolsonaro.

Ao menos desde janeiro de 2021, os pastores negociavam a liberação de verbas do FNDE. Eles ainda circulavam livremente no governo. Desde a posse de Bolsonaro, em 2019, eles estiveram 35 vezes no Palácio do Planalto.

A primeira visita de Moura ao Planalto ocorreu em 16 de janeiro de 2019, e a de Santos, em 21 de fevereiro do mesmo ano. Os dois estiveram pela última vez no Planalto em 16 de fevereiro de 2022.

Bolsonaro tenta se afastar de escândalo

Em março, quando as primeiras reportagens sobre o "gabinete paralelo" no MEC foram publicadas, Bolsonaro defendeu Ribeiro e disse que colocaria sua "cara no fogo" pelo então ministro.

"O Milton, coisa rara de eu falar aqui. Eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele", declarou Bolsonaro em uma transmissão ao vivo por redes sociais.

A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também afirmou, no dia em que Ribeiro foi exonerado do MEC, que "Deus sabe de todas as coisas e vai provar que ele [Milton Ribeiro] é uma pessoa honesta".

Após a prisão de Ribeiro, Bolsonaro mudou o tom e disse que o ex-ministro é que deveria responder por eventuais irregularidades. "Se tem prisão, é Polícia Federal, é sinal de que a Polícia Federal está agindo. Ele responda pelos atos dele. Peço a Deus que não tenha problema nenhum. Mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando, é um sinal que eu não interfiro na PF, porque isso aí vai respingar em mim, obviamente", afirmou o presidente em uma entrevista à rádio Itatiaia.

cn/ek (ots)