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O que é o Grupo Wagner, de mercenários ligados à Rússia

Monir Ghaedi
Publicado 20 de janeiro de 2023Última atualização 26 de junho de 2023

A empresa paramilitar privada, cujo dono é um aliado de Putin, chegou a recrutar prisioneiros para lutarem na Ucrânia. Agora combatentes estão desertando – e denunciando as irregularidades da máquina de guerra.

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Logotipo do grupo paramilitar russo Wagner
Foto: imageBROKER/Siegra Asmoel/imago images

Um ex-comandante do Grupo Wagner – uma empresa paramilitar privada com fortes ligações com o Kremlin – pediu asilo na Noruega após abandonar a controversa organização.

Andrey Medvedev, de 26 anos, foi preso por guardas de fronteira perto do vale Pasvikdalen, depois de ingressar no país escandinavo. As autoridades de imigração norueguesas confirmaram que Medvedev buscou abrigo no país, mas se recusaram a dar mais detalhes.

Medvedev não é o único membro do Grupo Wagner a desertar. Em setembro, Yevgeny Nuzhin, um ex-assassino condenado que havia se juntado ao grupo como mercenário, se rendeu na Ucrânia. 

Ele deu uma série de entrevistas criticando a liderança russa e revelando as terríveis condições nas frentes de combate que o levaram a desertar. Depois de ser trocado como prisioneiro de guerra, um vídeo macabro surgiu no aplicativo de mensagens Telegram mostrando Nuzhin sendo executado com uma marreta.  

O Grupo Wagner já era conhecido por suas táticas brutais, mas o assassinato de Nuzhin intensificou o escrutínio internacional dos combatentes mercenários, assim como o fato de o grupo ter se tornado cada vez mais importante para o esforço de guerra russo na Ucrânia.

Como surgiu o Grupo Wagner?

O Grupo Wagner está sob os holofotes por seu papel na guerra na Ucrânia.

O grupo foi fundado em 2014 e uma de suas primeiras missões conhecidas foi na península ucraniana da Crimeia, naquele mesmo ano, quando mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região. 

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, Moscou inicialmente usou os mercenários para reforçar as forças da linha de frente, mas, desde então, passou a contar cada vez mais com eles em batalhas críticas, como nas cidades de Bakhmut e Soledar.

A empresa paralimitar, seu dono e a maioria dos seus comandantes foram alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE).

Mural na Sérvia idealiza os combatentes do Grupo Wagner como "cavaleiros russos"
Mural na Sérvia idealiza os combatentes do Grupo Wagner como "cavaleiros russos"Foto: Darko Vojinovic/AP/picture alliance/dpa

Quem integra o Grupo Wagner?

A companhia militar privada Wagner já existia muito antes do início da guerra na Ucrânia e era composta por alguns milhares de mercenários.

Acreditava-se que a maioria deles eram ex-soldados de elite altamente treinados. Mas quando as perdas da Rússia durante a guerra na Ucrânia começaram a aumentar, o proprietário da empresa, o oligarca Yevgeny Prigozhin, ligado ao Kremlin, começou a expandir o grupo, recrutando prisioneiros e civis russos, assim como estrangeiros.

Em um vídeo que circula na internet desde setembro de 2022, Prigozhin é visto no pátio de uma prisão russa se dirigindo a uma multidão de condenados e prometendo que, se eles servissem na Ucrânia por seis meses, suas sentenças seriam comutadas.

Estima-se que o Grupo Wagner tenha até 20 mil soldados lutando na Ucrânia.

Apesar de sua crescente presença na guerra, a eficiência do Grupo Wagner não é clara, com analistas sugerindo que o grupo sofre um grande número de baixas sem fazer avanços significativos.

Operando em uma zona cinzenta legal

O estabelecimento de empresas militares privadas é ilegal de acordo com a Constituição russa, que estabelece que a responsabilidade pela segurança e defesa cabe exclusivamente ao Estado.

O Código Penal da Rússia proíbe que os cidadãos sirvam como mercenários, mas empresas estatais podem ter forças de segurança armadas privadas. Tais brechas na lei russa permitem que o Grupo Wagner opere em uma zona cinzenta semilegal.

O Grupo Wagner já trabalhou na África, por exemplo, fornecendo apoio e segurança para mineradoras russas e outros clientes. A Rússia tem sido acusada de usar o grupo como uma ferramenta para obter controle sobre os recursos naturais na África, bem como para influenciar a política e os conflitos em nações estrangeiras, incluindo Líbia, Sudão, Mali e Madagascar.

Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner
Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, tem laços estreitos com o KremlinFoto: AP Photo/picture alliance

Também há conhecimento sobre a presença de combatentes do Grupo Wagner na Síria.

A Rússia não é o único país com empresas militares privadas. Muitas outras nações, incluindo Estados Unidos, África do Sul, Iraque e Colômbia, têm empresas militares privadas operando dentro e fora de suas próprias fronteiras. E muitos desses grupos operam discretamente.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) e as Nações Unidas alertaram sobre o crescente número de mercenários e empresas militares e de segurança envolvidos nos atuais conflitos armados.

Patrocínio do governo

Mas o Grupo Wagner se destaca por seus laços estreitos com o governo russo, bem como por sua ampla gama de atividades. Enquanto muitas empresas privadas se concentram na prestação de serviços de segurança, o Grupo Wagner esteve envolvido em uma ampla gama de tarefas em conflitos e guerras civis.

Os mercenários do grupo – que alegaram abraçar as ideologias de extrema direita – também trouxeram descrédito para a organização. Dmitry Utkin, fundador do grupo, tem laços estreitos com uma organização supremacista branca e ultranacionalista conhecida como The Night Wolves (Lobos da noite), um clube de motociclistas que recebeu sanções de EUA, Reino Unido e UE.

Acredita-se que os Night Wolves também sejam apoiados pelo governo russo, e as mídias sociais estão cheias de imagens de membros do Grupo Wagner promovendo o mesmo tipo de retórica de extrema direita dos "lobos da noite".