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EconomiaJapão

Empresas alemãs estão trocando a China pelo Japão

Julian Ryall de Tóquio
5 de abril de 2024

Pesquisa aponta que cada vez mais companhias da Alemanha veem o Japão como opção estável para produção na Ásia, em meio à tensão geopolítica e às incertezas sobre restrições comerciais envolvendo Pequim.

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Homem trabalha em fábrica no Japão
Estudo com empresas alemãs mostrou que elas valorizam a estabilidade e as parcerias econômicas do JapãoFoto: Sakura Murakami/REUTERS

Uma pesquisa recente com empresas alemãs mostrou que cerca de 38% delas estão transferindo suas fábricas da China para o Japão. Já 23% disseram que vão realocar também suas funções de gerenciamento regional. As companhias apontaram estabilidade econômica, política e social como principal argumento para a mudança.

Ao todo, 164 empresas responderam à pesquisa, conduzida pela Câmara Alemã de Comércio e Indústria no Japão (AHK) e pela gigante de contabilidade KPMG na Alemanha.

O resultado ecoa a conclusão de outro estudo divulgado um pouco antes pela Organização de Comércio Exterior do Japão, que apontava o país asiático como um destino atraente para empresas estrangeiras que desejam evitar incertezas geopolíticas, comerciais e financeiras.

"Por muito tempo, empresas alemãs tiveram um foco muito forte na China por causa dos custos baixos de mão de obra e por ser um mercado importante e em crescimento", afirma o economista Martin Schulz, da Unidade de Inteligência de Mercado Global da empresa Fujitsu.

Segundo ele, essa tendência está mudando, e isso traz muitos desafios. "Significativamente, há questões políticas e geopolíticas crescentes a serem consideradas pelas empresas, como preocupações sobre se será mais difícil exportar da China para os Estados Unidos, por exemplo."

Tensões entre China e EUA

Os atritos comerciais entre Washington e Pequim se agravaram nos últimos anos, com os EUA interessados em impedir que a China obtenha as tecnologias mais avançadas, especialmente em microchips.

Além disso, há a preocupação de que uma mudança na presidência americana no início do próximo ano possa levar à imposição de restrições comerciais, taxas e sanções entre os dois países.

Assim, Schulz explica que, ao transferir suas instalações de produção para o Japão, as empresas alemãs reduzem – embora não eliminem totalmente – o risco de se envolverem em uma guerra comercial entre os EUA e a China.

"Os custos também estão aumentando na China e não sabemos qual será o futuro da economia chinesa durante a reestruturação pela qual está passando", acrescenta o economista.

As companhias têm ainda outros motivos para se preocupar, como a espionagem industrial e o atrito com as autoridades chinesas que, em casos extremos, podem levar uma empresa a ser banida do país.

Um executivo alemão de uma companhia com operações no Japão e na China relatou que as empresas precisam preparar "contramedidas" para o caso de serem banidas pelas autoridades de Pequim ou ameaçadas de banimento. O executivo não quis se identificar.

Japão é escolha "estável"

Martin Schulz concorda que há boas razões para as empresas transferirem "operações sensíveis" para o Japão, um país que por si só carrega muitos pontos a favor.

"O Japão é econômica e politicamente estável, as empresas daqui estão bem conectadas com o resto da Ásia, o que é importante para parcerias, e o país está intimamente integrado às cadeias de suprimentos globais", afirma Schulz.

Por sua vez, Klaus Meder, presidente no Japão da gigante alemã Bosch, diz que tanto a China quanto o Japão têm motivos convincentes para um investimento significativo de tempo e esforços da empresa. Mas ele aponta que, no Japão, "há estabilidade, confiança, o sistema é baseado em regras e a maioria das empresas está satisfeita com seus retornos financeiros".

"O Japão pode ser um mercado difícil de entrar, com muitos obstáculos, a barreira do idioma e especificações diferentes. Mas uma vez que você esteja estabelecido e tenha conquistado a confiança de seus clientes, poderá construir parcerias duradouras", diz Meder, que está no país há 12 anos.

Ele confirma que a presença no Japão é fundamental porque muitos parceiros no país atuam em outras partes do mundo, principalmente no Sudeste Asiático, Europa, China e nas Américas do Norte e do Sul. Segundo o executivo, é importante estar perto das sedes dessas empresas para manter relacionamentos.

Outros atrativos do Japão

Marcus Schürmann, CEO da AHK, que conduziu o estudo mencionado no início desta reportagem, afirma que os resultados da pesquisa enfatizam a importância das conexões das empresas com o Japão, "o país industrializado mais antigo da Ásia", e a tendência crescente de as funções de gerenciamento estarem sediadas ali.

Mais de 90% das companhias que participaram da pesquisa disseram que a estabilidade – tanto econômica e comercial como social – é o principal motivo para estarem no Japão.

Em seguida, vieram uma força de trabalho qualificada e uma infraestrutura avançada. Um ambiente político estável baseado em princípios democráticos e a proteção legal da propriedade intelectual também foram mencionados como razões importantes.

"As compras e o sourcing regionais podem ser feitos facilmente no Japão, e há muitos participantes globais importantes aqui, o que significa que faz muito sentido que as empresas levem isso em consideração quando estiverem pensando em um local para suas funções de gerenciamento regional", diz Schürmann.

Segundo ele, o Japão também se destaca pelos preços e custos "razoáveis". A força de trabalho é qualificada e capacitada, o potencial de receita é positivo e o aumento do uso da robótica e da automação está ajudando a superar os problemas associados ao envelhecimento da população.

"Além disso, os salários aqui são muito competitivos e entre 20% e 30% mais baixos do que na Alemanha, o que torna o Japão mais atraente", afirma.

As empresas alemãs ainda consideram mais fácil convencer os funcionários a se transferirem para cargos no Japão do que na China porque as condições de vida e o ambiente geral no Japão são mais atraentes, principalmente para famílias com filhos, conclui Schürmann.