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Dissidente russo Alexei Navalny morre na prisão

Publicado 16 de fevereiro de 2024Última atualização 16 de fevereiro de 2024

Inimigo de Putin estava preso em colônia penal no Círculo Polar Ártico, para onde fora transferido em dezembro. Causa da morte estaria sendo investigada, informou o serviço penitenciário federal da Rússia.

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Alexei Navalny
Navalny havia sido transferido em dezembro passado para colônia penal no Círculo Polar ÁrticoFoto: Sefe Karacan/AA/picture alliance

O líder oposicionista russo Alexei Navalny, de 47 anos, morreu nesta sexta-feira (16/02) na colônia penal IK-3, informou o serviço penitenciário federal da Rússia em comunicado. Ele fora transferido em dezembro para a instalação, situada em Kharp, no distrito autônomo de Yamalo-Nenets, no Círculo Polar Ártico, 1.900 quilômetros a nordeste de Moscou.

"Navalny se sentiu mal após uma caminhada, perdendo a consciência quase que imediatamente. A equipe médica chegou logo, e uma equipe de ambulância foi chamada. Realizaram-se medidas de reanimação que não produziram resultados positivos. Os paramédicos confirmaram a morte do condenado. A causa da morte está sendo apurada", disse o comunicado.

Os serviços penitenciários anunciaram ainda o envio de uma comissão de funcionários penitenciários e médicos do seu aparato central em Moscou para esclarecer as causas e circunstâncias da morte do recluso.

A porta-voz de Navalny, Kira Yarmish, declarou no começo desta tarde em Moscou que os correligionários do opositor ainda não tinham a confirmação da morte e que seu advogado partirá em breve para Yamalo-Nenets.

Já o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, foi informado da morte de Navalny.

Protesto em Moscou, 10/03/2012, contra reeleição de Vladimir Putin como presidente
Protesto em Moscou, 10/03/2012, contra reeleição de PutinFoto: Maxim Shipenkov/dpa/picture alliance

Penas adicionais e transferência

De longe o opositor mais proeminente da Rússia, Navalny estava preso há três anos e cumpria pena de mais de 30 anos de encarceramento. Em agosto de 2023, foi sentenciado, em julgamento a portas fechadas, a 19 anos adicionais de prisão – além dos 12 anos que já cumpria, por várias acusações –, desta vez por supostamente fundar e financiar uma organização terrorista e banalizar o nazismo.

Em dezembro, Navalny foi transferido de uma prisão na região de Vladimir, a menos de 200 quilômetros de Moscou, para um presídio no Círculo Polar Ártico, perto da cordilheira dos Urais. A cidade de Kharp, que tem cerca de seis mil habitantes, fica a quase dois mil quilômetros de Moscou ou a cerca de 45 horas de trem da capital russa.

Kharp fica a menos de 50 quilômetros de Salekhard, capital administrativa deste território que tem uma área maior que a de França, mas é habitado por apenas meio milhão de habitantes. Segundo um de seus colaboradores no exílio, Ivan Zhdanov, a prisão leva o nome de "Lobo Polar" e é considerada uma das mais distantes da civilização em toda a Rússia. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, foi informado da morte de Navalny.

Alexei Navalny é preso no aeroporto de Moscou em 17/01/2021
Apesar do envenenamento com Novichok, Navalny retornou à Rússia em 2021, e foi preso logo no aeroportoFoto: Kirill Kudryavtsev/AFP/Getty Images

Ativista quase morreu envenenado na Sibéria

Navalny ganhou destaque há mais de uma década ao ridicularizar a elite em torno do presidente russo, Vladimir Putin, e denunciar a corrupção em grande escala. Ele foi transferido após anunciar uma campanha contra a reeleição de Putin, no poder desde 2000. Em 7 de dezembro, pediu da prisão para que os russos votassem contra Putin nas eleições de 17 de março de 2024. Tanto os Estados Unidos, como a União Europeia (UE) e a Anistia Internacional (AI) expressaram preocupação com o destino de Navalny, o inimigo número um do Kremlin.

Em agosto de 2020, na Sibéria, Navalny quase morreu envenenado por Novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela antiga União Soviética, num atentado que o Ocidente atribuiu ao FSB, o serviço secreto russo.

Levado à Alemanha para tratamento, Navalny optou por voltar à Rússia em meados de 2021, apenas para ser imediatamente preso ao pôr os pés em Moscou, desencadeando alguns dos maiores protestos que a Rússia já testemunhou em décadas.

Taxado de extremista, o movimento anticorrupção liderado por Navalny foi encerrado. Seus principais aliados foram presos ou se exilaram no exterior.

Oposição perde uma figura forte

Depois da prisão, o ex-advogado só era visto em vídeos de baixa resolução durante audiências judiciais realizadas na prisão de segurança máxima, mas continuou criticando o Kremlin, como pela invasão da Ucrânia.

A Rússia apertou o cerco sobre dissidentes desde a invasão em larga escala do território ucraniano, em fevereiro de 2022.

Apoiadores de Navalny relatavam que ele vinha sofrendo perseguição na prisão e foi posto diversas vezes em solitária. Guardas teriam ainda sujeitado ele e outros presos a "tortura" ao forçá-los a ouvir discursos do presidente Putin.

Cartaz pela libertação de dissidente russo Alexei Navalny
Por diversas vezes ativistas de todo o mundo se manifestaram pela libertação de Navalny, como aqui em Londres, 2023Foto: Justin Tallis/AFP/Getty Images

O político nativo de um lugarejo rural no oblast de Moscou não foi apenas um novo tipo de oposicionista, capaz de mobilizar sobretudo os jovens russos. Durante anos ele travou uma campanha de proporções quase bíblicas contra o autocrático presidente vitalício Vladimir Putin, o qual responsabilizava pela avassaladora corrupção do país. Uma luta desigual, em que Navalny praticamente não tinha chances. Ainda assim, conseguiu mais do que qualquer dissidente de seu país.

O anúncio de sua morte marca um novo capítulo na história da Rússia. A oposição perdeu uma figura forte, porém sua atuação mostrou que é possível fazer frente ao Kremlin, mesmo a partir do cárcere. Mas o destino que tantos lhe desejavam, de que após a libertação se tornaria presidente – a exemplo de um Nelson Mandela, na África do Sul – foi negado a Alexei Navalny.

md/av/cn/rk (DW,AFP, Reuters)