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Com elogios a Musk, Bolsonaro reúne apoiadores em Copacabana

21 de abril de 2024

Ex-presidente convoca ato "em defesa da democracia" e aproveita discurso para negar participação em minuta golpista e defender dono do X, a quem chamou de "mito da liberdade".

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Muitas pessoas com camisetas verde e amarelas. Uma mulher com camiseta escrito "Fora Lula" segura cartaz em apoio a Musk
Manifestantes enalteceram Elon Musk, dono do XFoto: Pilar Olivares/REUTERS

Apoiadores e aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro realizaram neste domingo (21/04) um ato na orla da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, sob o argumento de "defesa da democracia".

O próprio Bolsonaro usou as redes sociais para convocar seus apoiadores ao ato, que também contou com discurso efusivo do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Com várias falas que misturaram política e religião, os aliados do ex-presidente fizeram discursos em favor de Bolsonaro e em defesa do bilionário Elon Musk, dono da rede social X (ex-Twitter) e que recentemente entrou em rota de colisão com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O ministro, aliás, foi um dos principais alvos dos manifestantes, que também criticaram o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, veículos de imprensa e as investigações em relação à tentativa de golpe de Estado. Alguns dos presentes levaram cartazes pedindo intervenção militar.

Cerca de três quarteirões de Copacaba foram ocupados por manifestantes, assim como parte da areia da praia. 

Vítima de "covardia"

Ao falar em cima de um trio elétrico, Bolsonaro se disse vítima da "covardia" de um "sistema" que quer o ver "fora de combate em definitivo". 

O ex-presidente é investigado em inquérito sobre a tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023. Seu passaporte foi apreendido pela Polícia Federal (PF), em fevereiro, por determinação de Moraes, durante a operação Tempus Veritatis.

Segundo a PF, quando ainda era presidente, Bolsonaro discutiu com militares uma minuta de golpe de Estado em que previa prender Moraes, o também ministro do STF Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco. Além disso, a minuta previa a realização de novas eleições presidenciais, usando como justificativa falsas denúncias de fraudes nas urnas eletrônicas.

Aos manifestantes em Copacabana, Bolsonaro usou seu discurso para se defender do suposto envolvimento na elaboração da minuta golpista.

"Nunca jogamos fora das quatro linhas. Alguém já viu essa minuta de golpe? Quando se fala em estado de sítio, é uma proposta que o presidente, dentro de suas atribuições constitucionais, pode submeter ao parlamento brasileiro. O presidente não baixa decreto nenhum. Só baixa decreto depois que o parlamento der o sinal verde", disse Bolsonaro. À PF, os ex-chefes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro afirmaram que o ex-presidente apresentou proposta de golpe. 

Bolsonaro com a camiseta da seleção brasileira fala ao microfone
"Pela primeira vez na história do Brasil, nós estamos vendo um presidente eleito, sem povo ao seu lado", disse Bolsonaro em referência a LulaFoto: Mauro Pimentel/AFP

"Órfãos de pais vivos"

Em Copacabana, Bolsonaro também defendeu seus apoiadores presos durante a invasão de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes em Brasília e voltou a atacar o processo eleitoral brasileiro.

"Temos pelo Brasil órfãos de pais vivos", disse o ex-presidente, referindo-se aos presos pela invasão. "A anistia é algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de armas, tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas, e muitas com uma Bíblia embaixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e depredando o patrimônio, como se fossem terroristas, como se fossem golpistas", disse o ex-presidente.

Mais uma vez, Bolsonaro questionou a legitimidade e transparência do sistema eleitoral brasileiro, como fez ao longo de seu mandato e após perder a eleição de 2022.

"Que nós possamos disputar as eleições sem qualquer suspeição. Afinal de contas, a alma da democracia é uma eleição limpa, onde ninguém pode sequer pensar em duvidar dela. Não estou duvidando das eleições, página virada. Até porque podemos ver, um dia, um time de futebol sem torcida ser campeão, mas pela primeira vez na história do Brasil, nós estamos vendo um presidente eleito, sem povo ao seu lado".

Em junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por oito anos, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, já que, em julho de 2022, durante a campanha eleitoral, o então candidato à reeleição convocou uma reunião com embaixadores para atacar o sistema eletrônico de votação, sem apresentar provas – discurso que já vinha repetido antes da reunião e seguiu proferindo depois.

Em outubro do mesmo ano, Bolsonaro tornou-se inelegível pela segunda vez pelo TSE por abuso de poder político. Por maioria, os ministros consideraram que ele aproveitou as celebrações de 200 anos da independência do Brasil, em 7 de setembro de 2022, para seu benefício em sua campanha eleitoral pela reeleição.

Críticas a Lula e aplausos a Musk

Ainda em seu discurso, Bolsonaro criticou o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva e pediu uma salva de palmas a Musk, a quem chamou de "mito da Liberdade".

Musk começou uma ofensiva contra Moraes por decisões do STF que determinaram o bloqueio de contas na plataforma de acusados de ameaçar a democracia e o processo eleitoral brasileiro. De um lado, o bilionário acusa Moraes de ser autoritário em suas decisões de retirar perfis do ar sem justificativa expressa. Moraes, por sua vez, alega que sua conduta visa conter a disseminação de discursos de ódio e de movimentos golpistas que ameaçam a democracia no país, como foi visto nas vésperas dos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Várias pessoas com camisetas verde e amarelas no protesto
Cerca de três quarteirões de Copacaba foram ocupados por manifestantes, assim como parte da areia da praiaFoto: Mauro Pimentel/AFP

Embora Bolsonaro tenha evitado citar o nome de Moares e de Pacheco, Malafaia não mediu palavras.

"Eu não vim aqui atacar aqui o STF. A maioria dos ministros não concorda com o Alexandre de Moraes. Vocês não podem se calar. Alexandre de Moraes está jogando o STF na lata do lixo da moralidade", disse Malafia, classificando Moraes de "ditador de toga".

Malafaia usou seu discurso ainda para criticar as investigações da PF sobre atos golpistas e atacar os atuais comandantes das Forças Armadas. "Se esses comandantes militares honram a farda que vestem, que renunciem aos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado", afirmou.

Também discursaram no ato a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que orou no palanque e convocou as mulheres a fazerem uma "política feminina e não feminista"; o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que, ao criticar Moares disse que o Brasil precisa de "menos leis e mais testosterona"; e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que chegou a falar em inglês, na esperança de que seu discurso chegasse até Musk.

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura do Rio, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os governadores do Rio, Claudio Castro (PL), e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), também estiveram presentes no ato.

Costa Neto e Braga Netto falaram rapidamente ao microfone antes da chegada de Bolsonaro – ambos estão proibidos de encontrar Bolsonaro devido à decisão judicial no âmbito das investigações sobre a trama golpista.

le/as (Agência Brasil, ots)