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Bolsonaristas ganham milhares de novos seguidores no Twitter

27 de abril de 2022

Presidente ganhou 65 mil novos seguidores em dois dias. Mas dados levantam suspeita que mais de 90% são robôs. Outros bolsonaristas e ativistas de extrema direita também registraram inchaço suspeito em suas contas.

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Jair Bolsonaro
Bolsonaristas celebraram crescimento no número de seguidores nas redesFoto: Alan Santos/PR

Os perfis do presidente Jair Bolsonaro no Twitter e de alguns políticos bolsonaristas ganharam milhares de novos seguidores nesta terça-feira (26/04).

Em publicações na rede, figuras da extrema direita como o senador Flávio Bolsonaro, o ex-secretário de Cultura Mário Frias, o deputado Marco Feliciano e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem tentaram atribuir o crescimento a uma suposta intervenção de Elon Musk, o bilionário sul-africano que comprou a plataforma nesta semana.

Segundo a narrativa dos bolsonaristas, Musk teria "destravado" mecanismos de "censura" que estariam prejudicando perfis de direita.

Robôs

No entanto, o ritmo do crescimento e a data de criação das contas desses novos seguidores indicam que os perfis bolsonaristas estão recorrendo a uma velha prática irregular na plataforma: o uso de robôs em larga escala para simular engajamento.

Longe de estarem sendo beneficiados por um suposto "fim da censura", os bolsonaristas, segundo análises de dados, estariam na realidade aproveitando o momento para incharem artificialmente suas contas.

Christopher Bouzy, fundador da ferramenta Bot Sentinel, que monitora perfis no Twitter criados e operados por robôs, afirmou na noite de terça-feira que o perfil de Bolsonaro havia ganhado 65 mil novos seguidores entre segunda-feira e terça-feira. O volume chamou a atenção, pois nos 12 dias anteriores a conta do presidente havia ganhado, em média, 4.272 novos seguidores por dia.

Segundo Bouzy, 61.299 das novas contas que seguiram Bolsonaro haviam sido criadas na própria terça-feira ou no dia anterior. Ele afirmou não acreditar que as novas contas que seguiram Bolsonaro eram orgânicas. "A resposta curta é não. Não acho que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas no mesmo momento e seguir Bolsonaro porque Elon Musk está comprando o Twitter", escreveu.

Nesta quarta-feira, Bouzy fez nova análise e afirmou que o perfil de Bolsonaro no Twitter havia ganhado  mais 36.228 novos seguidores no dia. Ele notou que a alta repentina não estava limitada à conta de Bolsonaro, e citou também o perfil da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), que ganhou 23.701 novos seguidores na terça-feira e 38.447 nesta quarta.

Bolsonaristas comemoram alta

Na terça-feira, Zambelli celebrou o aumento do número de seguidores em sua conta. "O Brasil é conservador, só faltava transparência e liberdade", afirmou.

Outro bolsonarista que foi ao Twitter comentar o aumento de número de seguidores foi o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente. "Em poucas horas, após o anúncio da compra do Twitter por @elonmusk, ganhei mais da metade de seguidores que normalmente ganho em 1 mês.  Algumas mudanças no engajamento já são perceptíveis. Era fato que o algoritmo anterior sabotava as contas", disse.

Outras figuras do bolsonarismo, como o empresário Luciano Hang, o ex-presidente da Fundação Palmares Sergio Camargo, o deputado Carlos Jordy, e "influencers" de extrema direita como Paulo Figueiredo Filho, Kim D. Paim e Paula Marisa também celebraram aumento no número de seguidores.

Diversos bolsonaristas já haviam celebrado na segunda-feira a aquisição do Twitter por Musk, que interpretaram como um gesto em "defesa da liberdade".
 

Movimentação "preocupante"

Bouzy notou que fenômeno semelhante estava acontecendo com políticos republicanos nos Estados Unidos. O governador da Flórida, Ron DeSantis, havia ganhado 141.566 seguidores na terça-feira e 64.129 na quarta-feira, volume muito superior à média de crescimento dos dias anteriores. Por outro lado, ele notou que políticos democratas registraram queda no número de seguidores.

"Estou preocupado com as eleições de meio de mandato aqui nos Estados Unidos e a eleição presidencial no Brasil. Mis/desinformação em plataformas de redes sociais podem influenciar eleições, e o influxo de contas recém-criadas é preocupante", afirmou Bouzy.

O especialista em monitoramento e análise de redes Pedro Barciela afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que a alta estrondosa de novos seguidores de políticos bolsonaristas era "estranha", pois a interação com esses perfis havia caído nos últimos dias. "A conta não fecha, para dizer o mínimo", afirmou.

Logo do Twitter em celular em cima de um teclado de notebook
Bolsonaristas celebraram a aquisição do Twitter por Musk, que interpretaram como um gesto em "defesa da liberdade"Foto: Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance

Qualidade do debate público

Musk, a pessoa mais rica do mundo, define-se como um "absolutista da liberdade de expressão" e já havia feito diversas críticas às políticas de moderação de conteúdo do Twitter, desenvolvidas para combater a desinformação e a propagação de notícias falsas com o intuito de melhorar a qualidade do debate público.

Ao comprar a empresa, Musk afirmou que aplicaria uma firme defesa da liberdade de expressão na plataforma, o que levantou preocupações de que o Twitter se tornaria uma terra sem lei e espaço de estímulo ao ódio e à propaganda, deixando sobre os usuários o ônus de combater o bullying e a desinformação.

Críticos da compra do Twitter por Musk receiam que o empresário acabe com esforços de moderação que vinham sendo implementados pela plataforma. Sob essa perspectiva, a retirada de qualquer controle sobre o que pode ser publicado e ter grande alcance seria prejudicial ao próprio debate público que Musk diz prezar, ao favorecer a propagação de discurso de ódio e de desinformação.

Musk, porém, afirmou que uma de suas prioridades para o Twitter seria "derrotar os robôs de spam" e "autenticar todos os seres humanos".

Alerta da União Europeia

Nesta terça-feira, a União Europeia (UE) advertiu Musk que o Twitter terá que cumprir novas leis do bloco que restringem o poder de grandes plataformas digitais em definir como lidam com a moderação de conteúdo e o banimento de usuários.

Os 27 países do bloco e os eurodeputados chegaram a um acordo sobre a Lei de Serviços Digitais, que estabelece regras sobre os conteúdos veiculados nas plataformas digitais, incluindo restrições ao discurso de ódio e à desinformação. 

As grandes plataformas, com mais de 45 milhões de usuários, deverão ter mais moderadores, em todos os idiomas de países do bloco, e abrir o código de seus algoritmos para as autoridades. As novas regras proíbem também a veiculação de publicidade dirigida a crianças ou segmentada por religião, gênero, raça e opiniões políticas, e definem critérios para o banimento de usuários.

De acordo com a Lei de Serviços Digitais, as grandes empresas de tecnologia podem ser punidas com multas de até 6% de sua receita global por violar as regras, e violações repetidas podem levar à proibição de atuar na UE.

O comissário da UE para o mercado interno, Thierry Breton, disse que tais assuntos agora seriam regulados no bloco e que os conselhos de administração das empresas não teriam poder para suprimir essas políticas. "Lembre-se, o espaço de informação não pertence a nenhuma empresa privada", disse. "O espaço de informação é parte de nossa responsabilidade como políticos. Como o espaço territorial e o espaço aéreo, a organização do nosso espaço digital é de nossa responsabilidade."

bl (DW, ots)