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A China está mandando armas letais para a Rússia?

5 de março de 2023

Especula-se que Moscou possa usar armamentos chineses contra a Ucrânia. Mas Pequim quer entregá-los? EUA se dizem preocupados e vigilantes - mas até agora não há indícios práticos de envio de armas letais.

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Dois soldados treinam com armas
Soldados chineses durante um exercício conjunto com a Rússia, em agosto de 2021Foto: Ding Kai/Xinhua/picture alliance

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, não deixou dúvidas sobre qual será a reação dos Estados Unidos caso a China decida entregar armas à Rússia.

Se Pequim apoiar a guerra de agressão contra a Ucrânia com equipamentos letais ou se evadir de sanções sistematicamente para ajudar Moscou, "isso seria um problema sério" para os dois países, garantiu Blinken após uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 na Índia, na quinta-feira (02/03).

Blinken afirmou quejá havia deixado clara essa posição ao principal diplomata da China, Wang Yi, à margem da Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro.

"Deixei claro que haverá consequências para esse tipo de ação. Não vou entrar em detalhes, mas é claro que temos sanções de vários tipos que estão definitivamente entre as coisas que nós e outros [países] consideraremos", afirmou, salientando que as preocupações quanto à entrega de armas letais são compartilhadas também por outras nações.

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, também apelou à China para não fornecer armas à Rússia.

"Use sua influência em Moscou para pressionar pela retirada das tropas russas [da Ucrânia] e não forneça armas à Rússia agressora", disse Scholz ao governo em Pequim há alguns dias.

Advertências têm justificativa?

Até agora, no entanto, os EUA não têm evidências práticas que fundamentem essa preocupação. De acordo com o secretário de imprensa do Pentágono, Pat Ryder, ainda não há registros de que a China tenha fornecido ajuda letal à Rússia. No entanto, o Pentágono também descobriu "que a China não tirou a questão da mesa".

O presidente dos EUA, Joe Biden, também foi cauteloso. "Não espero uma grande iniciativa da China para armar a Rússia", disse em entrevista à ABC News há alguns dias.

O mesmo ponto de vista é compartilhado pelo chefe da inteligência ucraniana, Kyrylo Budanov.

"Neste momento, não acho que a China concorde em transferir armas para a Rússia", disse em entrevista à emissora de rádio Voice of America. "Não vejo nenhum sinal de que essas coisas estejam sendo discutidas".

Putin e Xi ao lado de outros dois homens
Putin e Xi na cúpula da Organização para Cooperação de Xangai, no Uzbequistão, em setembro de 2022Foto: Sergei Bobylyov/Sputnik/AFP

De fato, as preocupações americanas até agora não se basearam em nenhum fato público disponível, explica Anna Marti, chefe do escritório de Taipei da Fundação Friedrich Naumann para Liberdade.

Embora seja concebível que a China possa fornecer armas, Marti diz que "há muitas razões do ponto de vista chinês que falam contra tal passo".

De acordo com Marti, há sinais de que a China esteja fornecendo bens militares à Rússia. No entanto, eles são limitados a peças de reposição, por exemplo, para drones. A China também pode fornecer tecnologia de navegação para caças. "No entanto, deve-se enfatizar que se a China forneceu ou fornecerá armas letais isso é um fato conhecido somente pelos serviços de inteligência", destaca.

Helena Legarda, do Mercator Institute for China Studies, de Berlim, concorda. Há indícios de que a China possa ter apoiado a Rússia com equipamentos não letais, como o fornecimento de tecnologia de semicondutores.No entanto, até agora, não há nada que sugira que a China tenha enviado armas letais, como mísseis ou drones.

"Os americanos dizem ter evidências de que Pequim está considerando fornecer tais armas. Mas, até agora, não há evidências públicas disponíveis de que a China esteja considerando isso".

Derrota de Putin não interessa Pequim

Basicamente, a China tem um grande interesse em que a Rússia não perca a guerra, diz Legarda. Isso porque ambos os países perseguem interesses comuns em relação à ordem global.

"Os dois veem os EUA e, portanto, também a Otan, como seus principais oponentes. E ambos querem remodelar a atual ordem mundial porque, em sua opinião, ela é muito dominada pelos Estados Unidos e pelo Ocidente".

O pior desenvolvimento do ponto de vista da China seria, portanto, uma mudança política em Moscou, com a Rússia se tornando uma democracia liberal e mais próxima do Ocidente. "Porque então a China estaria muito mais isolada em termos de suas ambições geopolíticas".

Além disso, Pequim também teme que uma derrota da Rússia leve à instabilidade política. "Ambos os países compartilham uma longa fronteira comum. Essa é outra razão pela qual Pequim não quer um vizinho politicamente instável que possa resultar da derrota da Rússia."

Apesar desses interesses chineses, há muitos motivos para Pequim não entregar armas a Moscou, segundo Legarda. Com medo de serem atingidas por sanções secundárias, muitas empresas chinesas cumpriram as sanções ocidentais contra a Rússia. Além disso, o governo chinês está ciente de que as relações com os EUA e a Europa se deteriorariam ainda mais no caso de entregas de armas.

As sanções ameaçadas pelos EUA teriam sérias consequências, especialmente para a economia chinesa, diz Anna Marti, da Fundação Friedrich Naumann. "É provável que os EUA pressionem seus parceiros europeus a participar de tais sanções [contra Pequim], e isso seria fatal para a China, já economicamente atingida pela pandemia de covid-19. Só por esta razão, é provável que Pequim seja muito hesitante em entregar armas à Rússia".

"Hoje Ucrânia, amanhã Taiwan"

Enquanto isso, os americanos permanecem vigilantes. Para o republicano Michael McCaul, presidente do Comitê de Relações Exteriores, as indicações de possíveis entregas de armas para a Rússia devem ser levadas muito a sério. Para ele, esses avisos não podem ser ignorados. "Caso contrário, os russos permanecerão na fronteira polonesa e o presidente Xi [Jinping] invadirá Taiwan", disse ao canal de notícias americano ABC no último domingo.

A visão do Kremlin sobre a Ucrânia coincide com a de Pequim sobre Taiwan, diz Anna Marti. "Putin nega que a Ucrânia seja um Estado independente. A China afirma exatamente o mesmo sobre Taiwan. Ambos os países argumentam em nome dos reinos imperiais no que diz respeito às suas reivindicações territoriais, apesar de sua pretensão de serem Estados modernos".

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Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.