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"Ninguém quer ser primeiro-ministro de Sissoco Embaló"

7 de junho de 2023

Analista guineense prevê um cenário difícil de coabitação entre o Presidente Umaro Sissoco Embaló, o novo Parlamento e o Governo saídos das urnas. CNE prepara-se para divulgar os resultados das eleições na Guiné-Bissau.

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Presidente Umaro Sissoco Embaló vai ter algumas dificuldades em nomear novo GovernoFoto: João Carlos/DW

O académico guineense Tamilton Teixeira diz que Sissoco Embaló quer "substituir as instituições" e passar a ser "ele próprio" o regime político e o modelo de governação do país, o que poderá mergulhar o país numa situação de instabilidade.

Em entrevista à DW, Tamilton Teixeira nota uma certa tensão no país enquanto se aguarda a divulgação dos resultados oficiais pela CNE, cuja divulgação está marcada para esta quarta-feira (07.06).

DW África: Em que ambiente os cidadãos da Guiné-Bissau aguardam a divulgação dos resultados eleitorais? 

Tamilton Teixeira (TT): À semelhança das últimas duas eleições - as legislativas e as presidenciais - a espera pelo resultado é caraterizada por alguma tensão e ansiedade. Tensão por conta daquilo que têm sido as particularidades das eleições guineenses, que acontecem sempre em momentos de graves crises e tensão política.

Normalmente as eleições na Guiné-Bissau decorrem em tempos de grave crise política, e estas eleições não fogem à regra. É bom recordar que estas eleições foram muito contestadas.

Guinea-Bissau Soziologe Tamilton Teixeira
Tamilton Teixeira, sociólogo guineense, prevê "cenários complicados" depois destas eleições Foto: Privat

DW África: Isso porque as pessoas cada vez menos confiam nas instituições? A idoneidade da Comissão Nacional de Eleições está a ser posta em causa?

TT: Obviamente. Porque há muito tempo que os fazedores da política guineense conseguem suplantar as instituições. Geralmente os políticos guineenses conseguem fazer consensos à margem da lei. Os consensos à margem da lei têm funcionado muito mais frequentemente do que as próprias leis feitas em consonância com as leis da República. Esta capacidade de driblar a lei é muito conhecida na Guiné-Bissau. A população está muito ciente desta realidade.

Só uma nota: aconteceu algo de muito particular nestas eleições, que é o facto de, em todos os bairros, em todas as artérias da cidade de Bissau, onde existiam mesas de voto, a população ter feito questão de participar no ato da contagem dos votos. Isto é inédito.

Houve casos de pessoas que foram para o local de voto com papel e caneta para participarem na contagem dos votos. Isto revela uma grande necessidade, por parte da população, de um melhor policiamento, de um melhor controlo da contagem de votos...

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DW África: O que é que se prevê para o futuro político do país? Vai haver uma coabitação entre um Governo e um Presidente que se compara com o Presidente da Coreia do Norte, um país com um regime totalmente à margem das regras democráticas...?

TT: Uma pessoa que adere ao culto da personalidade quer pegar e controlar o regime, centrando tudo na sua própria pessoa. Aliás, ele já disse que 'a segurança nacional sou eu'.

DW África: É possível conceber uma coabitação entre um novo Governo eleito e um Presidente que, na sua opinião, não é democrata?

TT: Ao meu ver ninguém quer ser o primeiro-ministro de Sissoco Embaló. À partida há um problema com o incumprimento das normas. Ao longo do tempo o Presidente mostrou que tem dificuldade com o controlo da sua própria linguagem. Não é nada polido quando se dirige aos outros. Portanto a coabitação vai ser muito difícil. Ele vai coabitar com quem? Quem é que estará disposto e apto para colaborar como primeiro-ministro com este Presidente? Suponho que ninguém.

Se Sissoco não se contentar com o seu lugar e a sua zona inerente ao cargo de Presidente da República, nós corremos o risco de ficarmos novamente mergulhados numa nova crise. E isso vai-nos levar ao que é o nosso "novo normal", ou seja: ele não vai aceitar nomear nenhum Governo que não seja um Governo da sua própria vontade. Resta provar que ainda há, na Guiné-Bissau, alguma capacidade de resistência institucional, por parte das instituições, ou por parte da sociedade civil. A vêr vamos...

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