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Huambo: "Porque é que a polícia usou balas reais?"

6 de junho de 2023

Em Angola, a organização de defesa dos direitos humanos OMUNGA condena a atuação da polícia na cidade do Huambo, depois de várias pessoas terem sido mortas em protestos contra o aumento do preço da gasolina.

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Foto de arquivoFoto: António Ambrósio/DW

Depois dos distúrbios na cidade do Huambo, a polícia disse, em comunicado, que "não foi possível evitar" as mortes e endereçou condolências às famílias vítimas da violência policial. Mas, em entrevista à DW África, o diretor executivo da organização não-governamental OMUNGA critica a corporação: Não só é possível evitar mortes, como é urgente que as autoridades angolanas garantam a proteção e segurança dos cidadãos, sem usar "balas reais", diz João Malavindele.

O defensor dos direitos humanos mostra-se preocupado com os casos recorrentes de violência policial em Angola, temendo a sua repetição. Chama ainda a atenção para o descontentamento da população angolana, prevendo mais protestos um pouco por todo o país.

DW África: Como avalia a atuação da polícia nos protestos na cidade do Huambo?

João Malavindele (JM): É uma atuação a que já estamos habituados, como sempre, pela negativa. E de acordo com o que temos vindo a acompanhar através de alguns nossos parceiros, que estão lá no local, os dados que a polícia apresenta não coincidem. Fala-se em cerca de 12 mortos, e a polícia, no seu comunicado, afirma que são cinco mortos. Mais uma vez, as autoridades angolanas não foram capazes de garantir a proteção e a segurança dos cidadãos. Antes pelo contrário: Usou-se, mais uma vez, balas reais.

João Malavindele, diretor executivo da OMUNGA
João Malavindele, diretor executivo da OMUNGAFoto: Borralho Ndomba/DW

DW África: A polícia diz que "não foi possível evitar" e lamenta estas mortes. Não é possível à polícia evitar mortes?

JM: A polícia tem à sua disposição outros meios para neutralizar cidadãos. Acho que qualquer agente da polícia, durante a sua formação, aprende técnicas de proteção e segurança. Então, a polícia nacional deve ser reformada para evitar essas situações, que têm sido recorrentes. Sempre que a polícia sai à rua para atuar há vítimas, e por vezes vítimas mortais.

DW África: Episódios, como este que aconteceu no Huambo, podem voltar a repetir-se depois do aumento da gasolina?

JM: Claro, isso vai acontecer. Há informações de outras províncias em que as pessoas pretendem ir para a rua para manifestar o seu descontentamento. Não é só por causa do aumento do combustível. É também por causa de outras coisas que estão a acontecer. Refiro-me, por exemplo, ao nível de pobreza que muitas famílias vivem ou à nova lei que regula o funcionamento das organizações não-governamentais. Tudo isto tem vindo a aumentar os níveis de descontentamento dos cidadãos e das organizações da sociedade civil.

DW África: Este aumento do preço da gasolina é a gota de água que fez transbordar o copo?

JM: Bom, eu acho que o Governo tem as suas razões, mas as medidas contrastam muito com a realidade social das famílias angolanas. Isso gera toda essa convulsão social a que estamos a assistir.

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