1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
ConflitosIsrael

Guerra em Gaza: Quão forte é o Hamas?

Kersten Knipp
30 de abril de 2024

A guerra entre Israel e o Hamas dura há quase sete meses. E apesar da superioridade militar de Israel, o movimento islamita não foi derrotado. A sua força não pode ser avaliada com exatidão, mas há alguns indicadores.

https://p.dw.com/p/4fMjP
Destruição em Gaza
Foto: Mahmoud Issa/REUTERS

No início de abril, representantes de Israel e dos EUA concordaram que, para derrotar militarmente o Hamas, Israel teria de atacar o grupo na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. 

"Os representantes dos dois Estados concordaram com o objetivo comum de derrotar o Hamas em Rafah", lê-se num comunicado publicado pelas duas partes, que se reuniram por videoconferência. "A representação norte-americana manifestou a sua preocupação relativa às linhas de ação em Rafah. Israel concordou em atender a essas preocupações".

O comunicado conjunto dá a entender que ainda não foi possível derrotar militarmente o Hamas. Mesmo depois de mais de meio ano de guerra, o grupo continua a conseguir fazer frente ao Exército israelita. Resta saber até quando.

Quão forte é o Hamas?

Esta é uma questão que dificilmente pode ser respondida com exatidão, diz à DW o analista político britânico Hisham Hellyer, do Instituto de estudos sobre defesa e segurança Royal United Services, em Londres. Isto porque, sublinha, ambos os lados têm interesse em realçar os seus sucessos.

Analista estima que Hamas ainda tenha pelo menos 50% dos seus túneis
Analista estima que Hamas ainda tenha pelo menos 50% dos seus túneisFoto: AFP

"É claro que o Hamas quer dizer que não foi seriamente afetado e que continua a ter um vasto armamento ou algo do género", diz Hellyer. "Já aos israelitas interessa sublinhar que foram muito bem-sucedidos nos seus objetivos. Portanto, nesse aspeto, há provavelmente muita propaganda de ambos os lados, embora eu ache que tenha havido muito mais por parte dos israelitas, uma vez que estiveram envolvidos em muito mais operações, que também causaram muito mais baixas".

Consequências visíveis

Gil Murciano, diretor do Instituto Israelita para Políticas Externas Regionais, afirma que os efeitos da intervenção militar são visíveis. Por exemplo, o número de mísseis disparados diminuiu significativamente, não apenas em Telavive, mas também junto à fronteira de Israel com a Faixa de Gaza. 

"Nesta zona, o número de mísseis disparados e as mortes por eles causadas diminuíram quase por completo".

Além disso, a operação do Exército israelita na parte central da Faixa de Gaza também levou à destruição das principais linhas de produção de armamento, mísseis, "drones" e outras munições. "Trata-se de um dano considerável para as capacidades militares que o Hamas construiu ao longo de muitos anos".

Michael Milshtein, antigo membro dos serviços secretos militares israelitas e atual investigador do Centro Moshe Dayan da Universidade de Telavive, considera que cerca de 70 a 80% do arsenal de mísseis do Hamas foi destruído. Isto deve-se também ao facto de o Hamas estar a ter cada vez mais dificuldades em conseguir componentes.

"A principal via de contrabando de armas, que era o posto fronteiriço de Rafah, está agora mais limitada. Não está totalmente bloqueada, mas as capacidades do Hamas para contrabandear armas estão a diminuir".

No entanto, os túneis continuam a causar problemas ao Exército israelita, segundo Milshtein. "Presumo que o Hamas ainda tenha pelo menos 50% dos seus túneis", o que torna os seus movimentos difíceis de prever e confere proteção aos seus combatentes. 

Perdas consideráveis

De acordo com o analista militar Kobi Michael, do Instituto israelita de Estudos de Segurança Nacional, o Hamas sofreu perdas consideráveis em termos de efetivos.

No entanto, Kobi Michael acredita que o Hamas continua a representar uma ameaça para as Forças Armadas israelitas, "ainda que sem as capacidades avançadas de mísseis que foram demonstradas durante esta guerra".

Gil Murciano tem uma opinião semelhante. O Hamas ainda pode operar em pequenos grupos com base em táticas de guerrilha. Mas já não é capaz de operar como batalhão, uma vez que, na cidade de Rafah, já só permanecem quatro dos seus batalhões. "Eles foram enfraquecidos pelo Exército israelita, mas continuam a operar".

Hamas continua a ser ameaça?

Isso quer dizer que os desafios para Israel continuam. Estima-se que o Exército israelita tenha neutralizado cerca de um terço dos 30.000 membros do Hamas, ou seja, o grupo deverá contar atualmente com apenas cerca de 20.000 combatentes. 

No entanto, nota Michael Milshtein, o Hamas pode colmatar esta lacuna muito rapidamente. "Em Gaza, há muitos jovens palestinianos que querem juntar-se ao Hamas."

Escalada de tensão Israel-Irão: Quem põe água na fervura?

Um relatório recente dos serviços secretos norte-americanos indica que é provável que Israel continue a ser confrontado com a resistência armada do Hamas durante algum tempo. "Os militares estarão ocupados a neutralizar as infraestruturas subterrâneas do Hamas, o que permitirá ao Hamas esconder-se, recuperar e surpreender de novo as forças israelitas".

No entanto, o movimento já não deve ser a ameaça que era há alguns meses, diz Hisham Hellyer: "Não creio que o Hamas esteja em condições de levar a cabo um ataque semelhante ao de 7 de outubro. Penso que, nesse aspeto, ficaram muito prejudicados".

Solução política indispensável

Ainda assim, considera o analista Gil Murciano, é imperativo que toda a estratégia militar com vista à redução da capacidade militar do Hamas seja complementada por uma solução política.

"É necessária uma alternativa política para a Faixa de Gaza. Se esta não for criada, os êxitos militares acabarão por ser inúteis. Temos de evitar que se crie um vazio político na Faixa de Gaza. Porque mesmo que se elimine metade dos membros do Hamas, se houver esse vazio, a outra metade voltará."

Saltar a secção Mais sobre este tema