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Especulação de preços gera indignação na Guiné-Bissau

Iancuba Dansó (Bissau)
24 de março de 2023

População guineense denuncia a especulação do preço dos produtos no mercado nacional e acusa os comerciantes de serem responsáveis pela situação. O Governo promete "mão dura" a quem for apanhado a cometer abusos.

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Guinea-Bissau | Markt in Bissau | Lebensmittel
Foto: Iancuba Dansó/DW

Em setembro passado, o governo guineense decidiu, "num contexto induzido pela pandemia de Covid-19 e pela guerra na Ucrânia", fixar o preço para alguns bens essenciais, no mercado nacional.

Por exemplo, um saco de 50kg de arroz, produto de base alimentar dos guineenses, deveria, segundo o despacho governamental, custar o equivalente a 29 euros, enquanto um saco de 50kg de farinha deveria ser comprado por cerca de 35 euros.

Seis meses depois, surgem várias denúncias sobre a especulação dos preços dos produtos no mercado nacional. A DW constatou que um saco de arroz de 50kg chega a custar 36 euros, em vez de 29, enquanto a farinha custa cerca de 40 euros, em vez dos 35 estipulados.

O preço de produtos como o açúcar e o óleo alimentar também disparou no mercado guineense. 

Fraco poder de compra

Cidadãos ouvidos pela DW África queixam-se do fraco poder de compra devido ao aumento dos preços.

Esta é a minha cidade: Bissau

"Sabemos que o salário é muito pouco e não vai corresponder com as necessidades, os outros têm a família e não há dinheiro para sustentar a família. Os produtos estão caros no mercado, é muito triste e é lamentável mesmo", disse uma cidadã, cuja opinião foi partilhada por outra conterrânea.

"O preço dos produtos da primeira necessidade subiu muito no mercado e eu queria que fosse reduzido o preço dos produtos da primeira necessidade, em vez de ser reduzido o dos transportes".

Governo promete punir infratores

À DW África, o inspetor-geral do Ministério do Comércio, Agostinho Lopes Djaló, admite que há especulação de preços, mas deixa garantias de uma "luta incessante" para combater o comportamento dos comerciantes. 

"Sabem como são os comerciantes, cada um luta para sobreviver, desrespeitando as leis. Mas nós também estamos atrás deles. Quem apanhamos, paga sempre uma coima. Nós estamos ainda vinculados ao despacho do Governo, que estabeleceu o preçário para todos os produtos da primeira necessidade, começando pelo arroz, açúcar, farinha e óleo. E estamos a controlar isso", diz.

A DW contactou a Associação Nacional dos Retalhistas dos Mercados da Guiné-Bissau, mas o presidente da organização não se quis pronunciar, para já, sobre o assunto. 

O preço de vários produtos disparou no mercado guineense
O preço de vários produtos disparou no mercado guineenseFoto: Iancuba Dansó/DW

Com o início do Ramadão, mês sagrado para os muçulmanos e um dos períodos em que há um aumento na procura por produtos alimentares, a situação tende a agravar-se. 

O inspetor-geral do Comércio, Agostinho Lopes Djaló, admite dificuldades no combate à especulação de preços no mercado nacional: "Não é fácil, porque às vezes [os comerciantes] fazem a especulação no horário fora do serviço. Mesmo assim, estamos a ir atrás deles".

Pandemia e guerra como pretexto

O argumento para a especulação dos preços tem sido a pandemia da Covid-19 e a guerra na Ucrânia. Bambo Sanhá, secretário-geral da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços (ACOBES) admite esse pretexto, mas atribui também responsabilidades ao Governo.

"Cada país e cada Governo tem de fazer um exercício interno para contrabalançar a situação desta crise, que se reflete no bolso dos consumidores. Muitos governos africanos e até dos países vizinhos aplicaram a medida de subvenção [aos cidadãos e aos comerciantes]", exemplifica.

A Guiné-Bissau, com muita carência de produtos, é um dos países que mais depende das importações e das variações dos preços praticados no mercado internacional. 

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