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ConflitosEtiópia

Conflito de Tigray agrava divisões étnicas na Etiópia

Kate Hairsine
9 de dezembro de 2021

Depois de mais de um ano de guerra no norte do país, as divisões étnicas da Etiópia estão mais acentuadas do que nunca. "O nível de ódio é tão intenso que uma solução política unitária parece inalcançável", diz analista.

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Äthiopien | Premierminister Abiy Ahmed Ali
Foto: Minasse Wondimu Hailu/AA/picture alliance

O avanço das forças da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) sobre a capital, Adis Abeba, levou o primeiro-ministro Abiy Ahmed a pedir aos etíopes para pegarem nas armas e irem para a guerra, dando ele próprio o exemplo. Após mais de uma semana na frente do campo de batalha, Abiy regressou, esta quarta-feira (08.12), ao seu escritório na capital etíope.

De acordo com várias fontes, o exército etíope terá recuperado o controlo de várias cidades. Ainda assim, para o investigador norte-americano e especialista no Corno de África, Yohannes Woldemariam, o país continua à beira de se desintegrar.

"O nível de ódio e o nível de polarização é tão intenso, a situação é tão violenta e tão dividida por linhas étnicas que uma solução política unitária me parece inalcançável", explica o especialista. Neste momento, as atenções estão postas no conflito que opõe as forças governamentais aos combatentes de Tigray e os seus aliados.

No entanto, os conflitos étnicos não se ficam por aqui. Disputas territoriais entre as regiões Afar e Somali continuam a motivar centenas de mortes. Na região de Oromia, no sul do país, o mesmo cenário de violência repete-se entre membros dos povos oromo e amhara.

Äthiopien Symbolbild Tigray-Konflikt
Soldado das forças de Tigray em Mekele, capital da região.Foto: Giulia Paravicini/REUTERS

Oromo sentem-se traídos

A Etiópia é composta por mais de 80 etnias, sendo os oromo o maior grupo étnico do país, constituindo cerca de 35% da população. Em 2018, quando chegou ao poder, Abiy Ahmed trouxe esperança por ser o primeiro oromo a conduzir a Etiópia.

No entanto, o Governo enviou tropas para Oromia, de forma a silenciar aqueles que se opunham à sua ideia de unificar o país, tornando a esperança do povo oromo em desilusão. "Eles não confiam em Abiy Ahmed. Sentem que ele traiu os que o colocaram no poder. Abiy Ahmed foi muito apoiado pelos jovens oromo, que protestavam contra a TPLF, agora eles sentem-se traídos por ele", afirma Woldemariam.

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Na opinião de Cameron Hudson, investigador do centro de estudos Atlantic Council, a perda do apoio da etnia oromo é um duro golpe para Abiy Ahmed, que é, agora, maioritariamente suportado pelos residentes da capital. "O grosso do seu apoio continua a vir da região de Amhara e das pessoas que estão em Adis Abeba. Esta é claramente a sua base de apoio mais forte. Mas é evidente que ele está a perder outros grupos", afirma Hudson.

"Demasiado sangue nas mãos" para governar

O especialista acredita que, mesmo que o primeiro-ministro ponha fim ao conflito com as forças de Tigray, não terá como se manter no poder.

"Abiy Ahmed tem demasiado sangue nas mãos para continuar a tentar governar o país. Mesmo que termine o conflito, não só perdeu a confiança do povo Tigray e do povo Oromo, como de muitas outras partes do país", explica.

Hudson acredita que o atual primero-ministro "vai ter muita dificuldade em ser a pessoa que vai voltar a unir a Etiópia".

Tal como ele, vários especialistas acreditam que a Etiópia vai precisar de um "novo começo político". Para isso, será necessário estabelecer um governo transitório etnicamente equilibrado.

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