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Angola espera contar com França para transição energética

Lusa
3 de março de 2023

Durante a visita do Presidente de França a Luanda foram assinados quatro instrumentos de cooperação. Emmanuel Macron saudou João Lourenço pelo "papel estratégico" que tem tido na região.

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 Emmanuel Macron e João Lourenço
Emmanuel Macron e João Lourenço em LuandaFoto: Ludovic Marin/AFP/Getty Images

O Presidente de França falava no Palácio Presidencial, em Luanda, após um encontro com o seu homólogo angolano João Lourenço, e evocou numa curta declaração à imprensa a situação de conflito da República Democrática do Congo (RDC) e o papel desempenhado pelo chefe de Estado angolano na procura de um cessar-fogo com os rebeldes do M23 e nas negociações em curso para alcançar a paz.

Abordou ainda a cooperação bilateral em vários domínios, incluindo educação e investigação, apontando os acordos que foram assinados hoje e outros que serão assinados ao longo dos próximos dias nas áreas de meteorologia, reforço da defesa, formação e segurança marítima.

No centro da visita de Emmanuel Macron a Angola esteve também o reforço da parceria em matéria agrícola, incluindo nas áreas de formação profissional, financiamento, e apoio veterinário.

O Presidente francês disse que se encontrou também com o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente, Adão de Almeida, com quem falou sobre esta nova etapa na produção agrícola, apontando áreas de interesse na transformação agrícola, enquadradas na estratégia de soberania alimentar "em que acreditamos para o continente africano".

Em matéria de infraestruturas, França continua presente em Angola, bem como na educação, cujo projeto mais recente é a Escola 42.

Elogiando o empenho do Governo angolano na diversificação económica, Macron salientou que os acordos assinados são importantes para alcançar este desígnio.

É também objetivo do Presidente francês "construir parcerias equilibrada" e trabalhar com o setor privado, desenvolvendo "uma estratégia 'Made in Africa' que deve tornar-se um marco de referência", sustentou.

Macron indicou igualmente que as reformas do Governo angolano têm permitido melhorar o ambiente de negócios, bem como a gestão das finanças públicas, governança do setor financeiro e operacionalização das parcerias público-privadas.

O chefe de Estado francês abordou ainda a restituição de obras de arte, agradecendo as duas esculturas que foram restituídas ao país e que faziam parte do espólio do palácio de Versalhes, considerando que Angola é "uma exceção".

Refinaria da Sonangol
João Lourenço quer contar com França para fazer a transição energética para fontes amigas do ambienteFoto: Osvaldo Silva/AFP/Getty Images

Périplo africano

O Presidente francês chegou pelas 11:45 locais e foi recebido com honras militares no Palácio Presidencial, tirou a foto oficial e subiu para um encontro com o seu homólogo, que durou cerca de uma hora.

Na breve passagem por Angola, onde chegou acompanhado com cerca de 50 empresários, Macron participou hoje de manhã no encerramento do Fórum Empresarial Angola-França, onde foi lançada a parceria para mobilização de empresas na área agrícola e agroindustrial.

O chefe de Estado francês segue agora para a próxima etapa do seu périplo africano, após ter visitado o Gabão, deslocando-se a Brazzaville (República do Congo) e chega ainda hoje a Kinshasa (República Democrática do Congo), onde termina a viagem.

Transição energética

Por seu lado, o chefe de Estado angolano assinalou que a visita, apesar de breve, reveste-se de alto significado, já que foi aproveitada para relançar e estreitar os laços de amizade e cooperação entre os dois países. 

João Lourenço reiterou o interesse em cooperar nos domínios de agricultura, água e pecuária, transformação de produtos do campo, pescas, turismo e energia. 

"Contamos também com a França para a transição energética e fontes amigas do ambiente", sublinhou, assinalando que "Angola fez esta aposta há algum tempo" e conta com 'know-how' francês e investimento de empresas francesas neste domínio.

Segundo maior investidor estrangeiro

Os investimentos franceses em Angola totalizam 7,6 mil milhões de euros, tornando a França no segundo maior investidor estrangeiro no país africano, depois dos Estados Unidos da América, segundo dados oficiais.

O investimento está associado sobretudo ao setor petrolífero, já que a multinacional francesa Total, presente há vários anos no país é também um dos principais empregadores do setor privado.

João Lourenço destacou também as parcerias que França tem com Angola nos campos de educação e ensino superior e que pretendem dar continuidade.

Dirigindo-se ao seu homólogo, João Lourenço realçou que França "tem em Angola um parceiro neste continente africano" com quem coopera e vai cooperar em praticamente todos os domínios "incluindo paz e segurança", não apenas no continente, mas no resto do mundo.

Emmanuel Macron eJoão Lourenço
Emmanuel Macron foi recebido pelo Presidente João Lourenço emLuandaFoto: Ludovic Marin/AFP/Getty Images

Fórum Económico

Do volume de comércio de bens transacionados entre França e Angola entre 2020 e 2022, cerca de 1,1 mil milhões de dólares (1,03 mil milhões de euros) foram de exportações de França para Angola, informou o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente angolano, Adão de Almeida, na cerimónia de encerramento do Fórum Económico Angola-França.

Embora a estrutura das exportações francesas para Angola "seja ainda bastante dominada por equipamentos para indústria petrolífera", frisou, "começa-se a assistir uma crescente tendência de diversificação abrangendo os domínios da alimentação, saúde, automóveis, bens de consumo, mecânica, eletricidade, eletrónica, computadores, perfumes e cosméticos".

Adão de Almeida, que discursava no fórum de lançamento de uma parceria de produção entre França e Angola no setor agrícola e agroalimentar, referiu que a França "é um importante aliado e parceiro estratégico" para Angola. 

"Os nossos laços de cooperação posicionam-se em patamares relevantes, considerando que França é o segundo maior investidor estrangeiro em Angola, principalmente devido aos investimentos feitos no setor petrolífero", sustentou.

Quanto aos investimentos, "França tem igualmente apostado na diversificação perspetivando-se incrementar ações nos domínios da agricultura, pecuária, turismo e produtos alimentares enquadrados no Programa de Apoio à Produção e Diversificação das Exportações e substituição das Importações (PRODESI)".

Segundo o ministro de Estado, Angola pretende também reforçar a cooperação com França nos ramos da logística, saúde, principalmente na produção de medicamentos para uso humano e animal, equipamento, finanças, indústria, agroindústria e construção civil.

O governante enalteceu a realização do fórum, que juntou mais de 30 empresários franceses do ramo agrícola e dezenas de empresários angolanos do setor, considerando ser fundamental que Angola tenha sucesso no seu objetivo de aumentar a produção interna, alcançar autossuficiência e diversificar as suas exportações.

Adão de Almeida convidou também os empresários franceses a investirem em Angola, por disporem de várias oportunidades, referindo ser este o momento certo para estes promoverem bolsas de negócios, feiras e outros eventos similares.

Agricultura no Huambo
Parceria no setor agrícola foi um dos pontos fortes da visita de Macron a LuandaFoto: José Adalberto/DW

Apoio ao RECLIMAA

Antes de se deslocar para o Palácio Presidencial para o encontro com o seu homólogo angolano, João Lourenço, Emmanuel Macron proferiu o discurso de encerramento do fórum empresarial, destacando que a parceria no setor agrícola visa construir fileiras integradas para assegurar a soberania alimentar.

Entre as iniciativas francesas, conta-se um empréstimo de 150 milhões de euros, através da Agência Francesa para o Desenvolvimento, para apoiar o programa de resiliência climática e segurança hídrica - RECLIMAA, acompanhamento da revitalização da fileira do café, acordo de parceira agrícola com profissionais do setor privado francês e angolano, semelhante a um acordo assinado com os Camarões no ano passado.

Serão também assinadas uma carta de intenções relativa à venda de um satélite de observação de terra com a Airbus Defence & Space, um memorando de entendimento para assistência técnica no setor da água com a Suez e uma carta de intenção da fase 2 do projeto de modernização do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INAMET), com a Météo France International.

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