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Alimentar-se de lixo: Dura realidade em Malanje

Nelson Camuto (Malanje)
30 de março de 2023

Em Angola, a organização católica Caritas em Malanje se diz preocupada com as pessoas que buscam alimentos no lixo. A DW conversou com um citadino a quem "a fome obriga".

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António Francisco
António Francisco: "A fome obriga"Foto: Nelson Camuto/DW

António Francisco tem 40 anos de idade e residente do bairro da Kanambua, na periferia de Malanje. Francisco é o terceiro filho de três irmãos.  Há sete anos, anda a vasculhar alimentos nos focos de lixo.

"A fome obriga. Também eu não posso ir roubar. Tenho que mesmo fazer isso para alimentar o estômago," revela.

Francisco diz que não está sozinho nesta condição social. Conta-nos que há igualmente outros cidadãos que buscam comida no lixo.

"Certas mães com crianças, bebé nas costas. Duas crianças pequenas. Está a ir apanhar lixo no contentor, apanhar comida para a criança comer. Ela também, a mãe, apanha lixo para comer", relata Francisco.

Situação preocupante

Desde 2003, o assistente de educação Daniel Victor trabalha na direção arquidiocesana da Cáritas em Malanje.

Sem precisar um número, o profissional diz que já acudiram numerosas pessoas no âmbito do programa de emergência do Serviço Social da Igreja Católica.

Vítor diz à DW que estão também preocupados com a vulnerabilidades de algumas famílias na província.

"Se parares numa lixeira, não vais fazer durante 30 minutos, vais ver jovens. Até já perguntei, ‘porquê não vai ao mercado servir como bagageiro para puder ter um pequeno subsídio e você fica na lixeira a apanhar aquele resto de alimentação, ferros e bidões," descreve.

Caritas em Malanje
Foto: Nelson Camuto/DW

A ajuda não basta

Perto de cinco mil pessoas receberam bens alimentares e outros produtos comtemplados pelo Gabinete Provincial da Ação Social, Família e Igualdade de Gênero em Malanje, entre os anos 2020 e 2021.

Mas segundo a diretora da instituição, Angelina Kamweji, o governo provincial está a potenciar às famílias com ações de auto rendimento.

"Nem sempre o gabinete tem a capacidade de apoiar todas as famílias, razão pela qual as famílias devem ser capacitadas em atividades geradoras de rendimento," defende.

O sociólogo Gaspar Firmino aponta o dedo ao Executivo neste drama.

"Com o fechamento social, a perca dos empregos, a não possibilidade de encontrarem novas oportunidades de emprego, então a única via que encontram para puderem sustentar a sua família ou se autossustentarem tem sido essa," avalia.

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